19 - Eu queria ser mais 'metafísica'

Parece que o mundo se tornou mais mundano, que não há nada que a gente precise saber e que à cada esquina a gente topa com o imediato e infalível, uma necessidade quente e mórbida ou o indesejável.
De repente, nada me inspira, e só o que consigo pensar está diante dos meus olhos. E nossas conversas tratam de amigos próximos, de grandes feitos e atualidades; perdeu o peso, o invencionismo, a fragilidade e consequente sensibilidade.
Eu não sei mais o que pensar. Talvez eu esteja com os pés colados no chão, com viseiras no rosto ou até mesmo medo, só que eu esperava mais das coisas. Eu me sentia muito mais intensa e perspicaz quando me equivocava... Não me sinto inspirada.
Me sinto é recortada com precisão, inserida em um contexto qualquer que poderia ser outro que não faria a diferença. Só o que consigo falar é das novidades, do que fiz hoje, do que era pra estar fazendo, do que consigo lembrar às vezes. Me cansa, quero sair desse corpo às vezes.

18 - Eu quero não ter que enunciar tudo palavra por palavra

Porque caso o contrário seria um ditado, e pontuar cada uma das palavras me parece tirania, uma afirmação desnecessária de uma momentânea e conveniente verdade.

17 - Eu quero me desamarrar

Chegou o dia em que descobri que não era o tempo ou a paciência que me faltava, nem a real consciência do que estava acontecendo. Era mais simples ainda. Não como se as coisas passassem rápidas demais e despercebidas, mas como quem encara todas elas com a mesma frieza e se decepciona; e o mínimo de sentimento que algumas delas despertavam era reforçado até o máximo deleite. Porque não é possível que a vida e suas coisas sejam isso. E não é.
E é bem complicado, essa agudez de olhar, essa frigidez de alma. A gente pensa que só de ter consciência disso já muda tudo, ou que uma constatação apenas muda tudo, como num filme, mas a matéria que compõe os pensamentos e as pessoas é muito mais sólida; mexe-se uma peça, e o que temos é um departamento com os móveis rearranjados. É cansativo. É jogo de lógica.
Eu vou ter que mudar quarto por quarto, setor por setor, usar um pouco de feng shui dessa vez, sei lá. A sensação é a mesma de exercitar músculos e esticar os tendões. É um exercício de alma, de disposição.
Ou é preciso um laxante espiritual pra descarregar tanto ceticismo, tanta rigidez, tanta bagaça...

16 - Eu quero que pare de dizer doçuras

Porque quando houver alguém que encontre nelas sinceridade para seus sentimentos, como é que vou saber?
O mundo faz as coisas simples, as pessoas que tratam de fazer complexas as coisas mais inocentes. Me fizeram cética, e agora?

15 - Eu quero aprender o sentido do desapego

Tá, estar com uma pessoa te inspira as sensações mais leves do mundo, mas nem um casamento é capaz de manter vocês dois juntos. O que é que deixa de ser tão leve nesse meio tempo, entre o descobrimento desse zelo pelo outro e o fim de um relacionamento? Quanto tempo se tem para desapegar da pessoa sem parecer um bobo relapso e apaixonado?
Meses atrás, me disseram que a necessidade de ter uma pessoa por perto está necessariamente ligada a alguma carência emocional, e que o relacionamento sem amarras e contratos é justamente o exercício de controle emocional para evitar que isso aconteça. O dito 'relacionamento aberto' te ensina a driblar a fossa.
Claro que eu não caí nessa, e fiquei na fossa do mesmo jeito.
Eu interpreto isso de uma outra forma. Toda vez que me envolvo com alguém, por ser um contato tão íntimo, essa pessoa de certa forma penetra e dá forma ao vazio emocional que sinto, como se me jogasse na cara o que é que sinto que está faltando. E estar com essa pessoa faz com que eu sinta essa vazio preenchido, ainda que paliativamente; essa é a diferença entre um relacionamento saudável e um nem tanto assim...
Não existe 'amor desapegado', de alguma forma se está envolvido com aquela pessoa. E a carência emocional acho que serve para fazer você sentir que está mais envolvido do que realmente está; e às vezes calha de se conseguir o que quer, e ainda sim ter vontade de largar tudo. Acho que é esse o apego que o relacionamento aberto deseja abolir, pois não dá pra construir expectativas sobre o outro. Mas sei lá. Não é pra mim não.
Agora me diz, o que se faz com o apego quando ele não faz mais sentido? E o objeto do apego? Sinto que não dá nem tempo de resolver meu luto, que isso não é permitido. Tá, mas se o luto é proibido, terminar um relacionamento aberto é muito mais fácil; será por isso que todo mundo espera que nossos relacionamentos, mesmo que sem firmados os contratos, não tenham luto? Tudo deve ser necessariamente 'aberto'?
Me deixem em paz com meu luto e apego... eles rendem bom textos e boas memórias. E o melhor, um pouquinho mais de compaixão com a humanidade.

14 - Eu quero abolir o Carnaval

Talvez eu ainda não entenda o sentido de tanta festa, pode ser isso. Mas não curto o Carnaval, por mais que desfile em blocos, viaje e beba com os amigos. Eu não sei, pra mim é incabível. Não vê esse povo que se engana?
De que te compraz uma vida em que só uma semana por ano se tem tempo para desfilar pela cidade, ver os amigos, curtir uma noitada ou um programa tranquilo com o namorado? De que te compraz um amor de carnaval que se desfaz na intimidade do luz diurno, no fazer a cama da semana seguinte? Não vê esse povo que se engana, se não pode ser assim todos os dias?

13 - Eu quero te dar um pé na bunda

Não me faça rir, gozar ou falar desnecessariamente. Me deixe dizer o que penso, que é o que sinto quando você não está por perto; porque sempre que estás perto, a adrenalina dopa meu corpo para todas as outras dores.
Olha, a gente seria funcional se eu fosse despretensiosa, se eu não tivesse a auto-estima tão baixa, se a poligamia não preenchesse meus vazios paliativamente. Mas são muitos SEs nessa questão...